Temo que muitos jovens e adultos se comportem no mundo como se fossem donos e senhores, sem estabelecer relações de doçura e receptividade. Fechados no casulo da eletrônica e demais progressos tecnológicos, afogados em devaneios virtuais, temos esquecido da vida interior, deixado de extrair todo o seu sumo e sabor.
Diante disso, o que fazer? Proponho três exercícios difíceis, mas não impossíveis, que se fazem necessários para escapar da banalidade circundante. Vejamos:
Passo 1: O primeiro ato a praticar para modificar a qualidade da relação com o mundo é dar tempo a si mesmo. Tornar mais lento os ritmos, estancar a sucessão trepidante de acontecimentos. É na tranqüilidade que fruímos a densidade do presente e podemos elaborar as emoções profundas, aquelas que penetram fundo na alma e a convidam a crescer.
Passo 2: Assumir uma postura de disponibilidade. Desenvolver interesse pelas coisas, mesmo que pequenas e aparentemente insignificantes. Entender a força dos prazeres minúsculos é aprender a viver melhor as possibilidades do cotidiano. Uma paisagem, um filme, jogar com uma criança, o aroma do sabonete, uma canção, coisas que estão ao nosso alcance com facilidade. Não custam quase nada e revelam as gigantescas belezas e qualidades emocionais do mundo.
Passo 3: Aprimorar uma atitude de brandura. O século XX foi de espírito forte e violento, de desbravadores e empreendedores. Sua identidade era ligada a adiantamentos técnicos, conquistas práticas, desenvolvimentos materiais. Nossa missão é outra, diferente. Há, como ensina a sabedoria popular, tempo de plantar e tempo de colher. Estamos no segundo estágio. Herdeiros de tamanha agitação, precisamos trabalhar para frutificar a meiguice, a leveza, a delicadeza, o desprendimento, a ternura.
Perceba que são muitas as dádivas que recebemos. Vamos ser delas merecedoras. Construir uma vida melhor para nós e para as gerações depois da nossa. Vida com mais tempo, disponibilidade e brandura. Simples assim.
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Marina Gold